A hora de dormir aqui em casa, traz sempre aprendizados de tirar o fôlego. No repassar do dia com as crianças, elas nos trazem o residual das experiências que tiveram e nos oferecem a chance de apoiá-los a trazer significados e elaborar o que se passou.
E foi assim na noite de hoje:
Pedro apareceu na cozinha, enquanto eu fazia um chá, e disse:
- Mãe, tive uma ideia. Vou começar a vender livros.
- Poxa filho. Que legal. Como vai ser?
- Vão ser do tamanho de uma folha sulfite normal, grampeada do lado, com desenhos. São livros de pintar. Vai custar R$10.
- Legal, Pedro. Por que você quer vender?
- Porque tem coisas que eu quero ter e não tô ganhando nunca. Melhor comprar.
- Ah! Que bom filho. Você está encontrando um jeito de transformar seus desejos em realidade. Muito legal.
No quarto. Uns 20 minutos depois, deitado na cama.
- Mãe, tô achando que ninguém vai comprar não.
- Eu acho que vão sim.
- Então amanhã eu vou começar a desenhar, mas olha, pro meu desenho sair bonito eu preciso estar nem lugar bem calmo, bem quieto, gostoso. Eu preciso estar com a minha cabeça toda com o meu desenho e me sentir amado, e não pode ter gritos (leiam broncas minhas, com grito). Senão eu faço 1 traço e já sai horrível e parece que eu não sou eu. Meu corpo fica todo duro e aí eu não consigo melhorar o desenho.
Tá aí, gente. A explicação de uma criança, de tudo o que qualquer criança (e todos nós) precisa para expressar quem ela é, sua verdade, sua plena potência.
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